25 outubro, 2009

AO INVÉS DO JORNAL, UM CADÁVER!!


Acordei meio a contragosto naquela manhã de domingo, vagarosamente fui realizando minhas atividades corriqueiras de todo domingo, lavei o rosto, escovei os dentes, sentei-me no vaso sanitário, refestelado, aquele era o meu momento de relaxamento, momento em que eu podia ficar sozinho sem ouvir os gritos das crianças ou as reclamações da mulher, já no início da minha primeira atividade física matinal lembrei-me que tinha esquecido do principal, o meu jornal, meu companheiro nessa hora tão importante do dia. Interrompi a atividade quando pude e dirigi-me a porta para buscar o meu companheiro, àquela hora, bem cedo, o porteiro do prédio já devia ter distribuído os jornais. Abri a porta com aquela sonolência de costume, envolvido no meu já surrado pijama de flanela, qual não foi minha surpresa ao encontrar caído em minha porta, não o jornal como de costume, mas sim um corpo pálido e sem vida. Preocupado Abaixei-me e tomei –lhe o pulso para ver se ainda lhe restava alguma vida, nada. Tentei sentir o coração bater, o meu já batia tão rápido que nem conseguiria sentir o do distinto quase cadáver, realmente não tinha nada pra sentir, depois de aproximar –me do rosto pra sentir a respiração pude constatar que o quase cadáver era realmente um morto. Não sabia o que fazer, o que eu um cidadão de bem teria feito para encontrar no lugar do meu jornal um cadáver desconhecido?Algumas pessoas encontram bebês abandonados à porta, mas um cadáver?! Eu nunca tinha ouvido falar! Larguei a porta aberta com o pobre lá estático e corri ao telefone, ia ligar para a polícia mas pensei, quem ia acreditar naquela estória estapafúrdia, eu iria ser o primeiro suspeito é claro. Pensei em ligar para um amigo, mas isso era pior ainda, o mesmo era tão atrapalhado que só me deixaria mais nervoso. O cadáver estava lá deitado a minha porta e logo os vizinhos iam começar a se levantar, principalmente a vizinha do 512 que adorava uma notícia quentinha, nesse caso bem gelada! Foi então que tive a infeliz idéia de arrastar o sem vida para dentro do meu apartamento. Fiz com alguma dificuldade, além de tudo o pobre era pesado que só ele. E agora o que fazer? Parecia que eu me enrolava cada vez mais. Lembrei-me de um filme que vi quando era menino, vesti- o com uns óculos escuros e um boné, com a maquiagem da minha mulher que ainda roncava na cama, de onde eu nunca devia ter saído naquele dia, corei o rosto pálido do indivíduo. A campainha soou, agora sim era o zelador entregando o jornal. Aproveitei que a portaria devia estar sozinha e desci com o defunto escorado ao meu ombro como se fosse um amigo bêbado, e com o jornal na mão. Levei-o com dificuldade até uma praça próxima ao meu prédio, àquela hora da manhã de domingo não havia nenhuma alma viva na rua. Sentei o sem vida no banco da praça, estiquei –lhe os braços que já estavam ficando rijos e encaixei com cuidado o jornal aberto nas mãos do coitado. Olhando de longe até parecia que ele estava vivo. Com a cena montada como num palco, voltei para meu apartamento. Terminei, meio preocupado, as minhas atividades matinais. Mais tarde, lembrei-me que ainda não tinha lido o jornal, depois de tudo não podia ficar sem o meu momento relax, saí de casa com medo que alguém tivesse me visto, no caminho para a banca avistei o alvoroço na praça, carro de polícia, gente curiosa em volta comentando, parei como quem não quer nada fingindo que não sabia do que se tratava, alguém comentou perto de mim: -Coitado!Deve ter morrido durante a noite!! E eu que não sou bobo nem nada logo devolvi o comentário:- Do jeito que está parece mais que enfartou lendo alguma notícia!Coitado!Vê como o mundo está, a coisa está tão feia que se morre até lendo o jornal!!!

Escrito em 09/07/08

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